Na realidade o Museu da tentativa é uma antiga Fazenda construída entre 1932 – 1939, na província do Bengo com o objectivo do plantil de alguns produtos com ênfase a cana de açucar.
Era constituída por 7.500 trabalhadores dos quais 5.000 estavam dedicados ao cultivo dos produtos e os outros 2.500 trabalhavam na transformação dos mesmos.
Porquê o nome Tentativa?
Porque os colonos portugueses na altura, ao chegarem a Angola não conheciam as terras. Tentaram desenvolver a exploração da cana de Açucar primeiramente na província de Benguela, mas a flora e a fauna da mesma não favoreceu. Foi aí que deslocaram-se até a zona do Alto Ndande e achando que o terreno era fértil, disseram porque não tentar? Foi aí que tendo sucesso estabeleceram-se no local e daí surge o nome: Fazenda da Tentativa!
Nesta mesma altura, houve um rapaz que cortando uma parte da árvore borracheira, colocou num recipiente e tentou produzir a borracha de apagar mas sem sucesso.
Como parte da história e perservação da cultura, sentiu-se a necessidade de implantar o Museu e foi no dia 4 de Fevereiro de 2011 assim inaugurado. Ainda em fase de alargamento, a sua estrutura vai ser inspirada nos processos da cana de açucar.
Como a fazenda recebia pessoas oriundas das várias províncias, criaram-se as residências e estas divididas em 7 dependências. São elas:
- Vale Verde ( cultivo dos produtos para o pessoal trabalhador da fábrica);
- Paranho ( pessoal oriundo da parte sul do País);
- Santana;
- Cambambe;
- Sede;
- Boavista
- Quijanga ( área composta por um porto de embarque na qual atracavam os batelões).
Os batelões eram barcos a remo de 8 homens, que carregavam os produtos transformados da fábrica para Luanda. Por serem barcos não sofisticados, estes chegavam apenas até a barra do Dande, passavam a mercadoria para barcos de maior porte que transportavam até a alfândega de Luanda e daí para a Europa.
Todos eram obrigados a trabalhos forçados inclusive as crianças. A sua tarefa era de partir o coconut para produção do óleo de Palma.
Estrutura da Fazenda
Implantação da Companhia Alto Ndande
Palmares: nativos que subiam a palmeira para cortar o cacho de dendém.
Canal de irrigação: que facilitava a irrigação do cultivo ao longo dos 25 Km2.
Área fabril: fábrica de açucar.
Caminho de ferro: comboio escoava o produto entre as dependências.
Rua das Palmeirinhas: dava acesso a área da açucareira.
Porto de embarque: onde atracavam os batelões.
Área administrativa: chamada de chalé era onde os prorpietários das fazendas trabalhavam.
Companhia de Açucar de Angola
Oficina: oficina geral que apoiava a fazenda em peças sobressalentes.
Pontes artesanais: feitas de lianas, usadas para a circulação e travessia.
Baleizão: área onde está a fábrica de sabão
Meio de transportação
Canoa: 1º meio de transporte antes dos batelões.
Principais instrumentos utilizados na altura em língua nacional Kimbundu traduzidos para o português:
- Hamba: arco instrumento usada para subir a palmeira
- Kino/ kimo: Pilau para pisar a fuba
- Sanga/ Mbinda/ Cabaça: usadas na conservação da água
- Auanda: rede para pesca
- Mussualu/Quibandi: peneira
- Njango: Catana de corte do dendém e da banana
- Kitambi: catana específica para o corte da cana e de troncos
- Kitangueke: torradeira de milho e ginguba
- Lixisa: esteira para acomodação nas residências
- Lianzua: instrumento de pesca
- Batuques: instrumento para actividades recriativas
Boa noite! Li seu artigo e era muito interessante. Tentei chegar ao museu ontem, mas não consegui. Estava no Caxito e ninguém conseguiu ajudar-me. Podia por favor me dizer onde fica exatamente este museu ?
Obrigado
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Boa tarde Amílcar! Muito obrigado por ler o artigo e achar interessante. O museu está localizado no município do Dande e não exatactamente na cidade de Caxito. Antes de ir para lá, buscamos a informação na administração local da província e fomos com alguém que conhecia o local. Aconselho a fazer o mesmo e também aproveite visitar o Açude também localizado no mesmo município. Espero que tenha ajudado.
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Vivi na Quijanda. O meu quarto de dormir correspondia à janela da direita (foto da casa como é mostrada). A habitação possuía uma suite, 2 quartos, sala comum e WC. A cozinha ficava fora. A dependência estava ligada à sede (Tentativa) por caminho de ferro que era usado no transporte de ramas de açúcar (sacos de 100 quilos) que depois eram carregados em batelões seguindo estes para a barra do Dande onde os sacos eram transferidos para navios. A habitação chegou a ter energia eléctrica produzida por gerador próprio instalado na casa da cacimba. Estava perto de Porto-quipiri onde fui muitas vezes. Na Quijanda, junto ao rio, foram encontradas várias moedas muito antigas bem como artefactos pertencentes a navios veleiros (caravelas?).
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Olá Manuel! Muito obrigado pelo contributo a página. Muito bom ter alguém que viveu e presenciou toda essa história. Já visitou o local recentemente? Escrevi também um pouco sobre o Bengo https://ebiimii.wordpress.com/2017/05/23/bengo/ e sobre as Comportas do Dande https://ebiimii.wordpress.com/2017/08/08/acude-comportas-do-dande/
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